segunda-feira, 3 de novembro de 2008

'O mundo vive dois dramas: a crise financeira e a climática'



Há 15 dias, a Agência Americana de Oceanos e Atmosfera soou o alarme: a temperatura no Ártico está 5°C acima da média, um recorde que demonstra uma forte diminuição do banco de gelo, provocada pelo aquecimento global. O fenômeno, divulgado em meio a crise econômica americana, preocupa o economista e cientista político alemão Elmar Altvater, de 70 anos. “Nenhum cientista imaginou aumento da temperatura nesse patamar. E todo mundo só fala da crise financeira”, lamenta. Segundo ele, “o fenômeno é tão terrível quanto a questão econômica e ninguém está dando atenção”, completa. Altvater está no Rio até amanhã para uma série de palestras.
A reportagem é de Márcia Vieira e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 03-11-2008.
Não que a crise não seja preocupante. Mas o professor de ciência política da Universidade Livre de Berlim e autor do livro O fim do capitalismo como nós o conhecemos, lançado em 2006, ainda sem edição no Brasil, defende que os governos e a sociedade tenham a mesma atenção com a crise climática. Altvater prega uma mudança radical na produção econômica e no estilo de vida moderno para reverter o aquecimento global. “Não há dúvida que precisamos nos adaptar rápido a um novo tipo de vida. O mundo vive dois dramas: a crise financeira e a crise climática. As duas estão interligadas”, defende Altvater, um estudioso das relações entre economia e ecologia.
Ele defende um sistema de produção baseado no uso progressivo de energias alternativas, não poluentes, como a solar. “O que vai acontecer com o capitalismo depois desta crise ninguém sabe. Mas a única saída para a humanidade é o uso de energias renováveis.” O etanol é uma das possibilidades. Altvater compartilha a opinião de uma corrente de ambientalistas que ataca o uso do etanol porque as plantações de cana-de-açúcar, beterraba, milho e trigo roubam espaço da produção de alimentos.
“Se continuarmos com estilo de vida com base no carro, se nossa arquitetura não se adaptar ao clima de cada região e se não reduzirmos o uso de energia, nosso futuro não será bom. São mudanças que se fazem ao longo de 30 anos. Mas só depende de nós. Nós somos os arquitetos do nosso futuro.”