domingo, 24 de maio de 2009

A AGROECOLOGIA COMO MOVIMENTO SOCIAL, E MÉTODO TEÓRICO DE DESENVOLVIMENTO RURAL

Qual o caráter do movimento agroecológico? E a este quais tendências estão colocadas como alternativas ao padrão imposto pelo capitalismo agrário? Quais as possibilidades e limites das propostas teóricas e praticas da agroecologia que vem sendo apontadas como via possíveis soluções para a crise agrária, e que têm preocupado cientistas, políticos e movimentos ambientalistas? Quanto ao campesinato, para este a AGROECOLOGIA seria alternativa de produção sustentável?
Para HECHT (1987) a agroecologia pode ser definida como aquela ciência que incorpora ideais mais ambientalista e sociais acerca da agricultura, focando não somente a produção, mas também a sustentabilidade ecológica, econômica e social dos sistemas de produção.
A AGROECOLOGIA pode ser mais bem descrita como uma tendência que integra os ideais e métodos de vários sub-corpos em vez de uma disciplina especifica.
ORIGEM DA AGROECOLOGIA: ela tem raízes nas ciências agrícolas, no movimento ambiental, na ecologia e nas analises de agroecossistemas indígenas e caboclos e em estudos de desenvolvimento rural.
A agroecologia deriva de tronco filosófico, como salienta LEFF (2000) e nasceu da estratégia teórica para compreender e agir sobre processos ambientais, que estão vinculados a estratégias práticas (social, econômica, ecológica e tecnológica) de desenvolvimento e não erige apenas em princípios de epistemologia geral. Assim surge a necessidade de discutir ao mesmo tempo a agroecologia como movimento social e ciência da produçao agrícola e da conservação socioambiental, para melhor compreendê-la e refletir suas propostas no marco do capitalismo.
A HISTÓRIA DA AGROECOLOGIA É EMBRIONARIA À ABORDAGEM DOS MOVIMENTOS SOCIAIS LIGADO AO AMBIENTALISMO.
CONTEXTUALIZAÇAO HISTORICA.
Os homens sempre tiveram que escolher entre submeter-se a natureza ou submeter à natureza do seu eu. O predomínio do homem sobre a natureza tem sido a marca decisiva da sociedade moderna.
Os estudos das ciências naturais contribuíram para vencer barreiras preconceitos, no que descobertas e teorias de naturalistas como LINEU, e particularmente DARWIN, que através de sua máxima obra ORIGEM DAS ESPÉCIES, lançada em 1859, foram decisiva para chamar a atenção e melhor considerar os aspectos da evolução das relações do homem com a natureza.
O movimento ambientalista surge junto com a ecologia. Em 1869 o Zoólogo ERNEST HAECKEL empregou o nome ECOLOGIA pela primeira vez. ECOLOGIA vem do grego oikos=morada.
Ecologia estuda a relações HOMEM, ANIMAL, VEGETAL, MEIO AMBIENTE.
A partir de uma visão holológica, a ecologia como campo social do conhecimento enveredou pelas mais diversas áreas e interagindo com as mais variadas ciencias.
A ecologia ante de tudo é uma questão social, pois não se pode entender uma população humana sem as suas abordagens econômicas e políticas.
A necessidade de se buscar a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade em analises mais complexa sobre ecossistemas e realidades de intervenção antrópicas. Esta questão, entre outras, foi se combinando e favoreceu ainda mais o florescimento da ecologia e do movimento ambientalista e da agroecologia que velozmente se desenvolveu no ultimo quarto do século passado.
LEIS (1999) salientou que as mais tradicionais abordagens enquadram o ambientalismo em três formas distintas: os grupos de interesses, como novo movimento social ou como Movimento histórico.
GRUPOS DE INTERESSE: surgiu nos EUA e não representava ameaça ao sistema socioeconômico vigente.
MOVIMENTO SOCIAL: mais identificável na Europa, ligados aos partidos verdes (que também não chega questionar o sistema).
MOVIMENTO HISTÓRICO: assumido a sociedade atual como insustentável a medio e longo prazo – vertente mais próxima do marxismo.
Desde a sua gênese o movimento ambientalista divide-se em duas grandes tendências: os preservacionistas e os conservacionistas.
Todo o movimento ambientalista adquiriu forma, no entanto, a partir dos descobrimentos dos efeitos negativos do período pós-segunda guerra mundial, particularmente com os desdobramentos da crise do petróleo.
As pesquisas científicas dos anos 50 e 60 que tinham a concepção ampla e holística dos problemas ambientais deram impulsos para os movimentos ambientalistas.
Na década de 70 o movimento ambientalista deu um salto que foi decisivo para a sua consolidação. Colocou na ordem do dia a problemática ambiental. Os problemas ambientais acabaram forçando os governos de diversos países a incorporar em suas agendas o debate ambiental. Assim a ONU assumiu a problemática no documento MIT “ os limites do crescimento”, em Estocolmo, no final da 1º Conferencia Mundial sobre desenvolvimento e meio ambiente, alertava para os riscos ocasionados de um modelo de crescimento que não levasse em consideração a capacidade suporte dos ecossistemas.
Enquanto isso, os primeiros reflexos negativos da revolução verde se faziam surtir na agricultura, uma vez que seu modelo GENETICO-MECÂNICO-QUÍMICO intensivo em tecnologia, altamente dependente de volumosos investimentos de capital e, extremamente poluente, deixava seqüelas à saúde dos consumidores e prejudicava os ecossistemas, particularmente os edáficos e aqüíferos. Assim o movimento ambientalista dobrou suas energias para este setor da economia. Neste contexto fizeram surgir ou ressurgi a proposição AGROECOLOGIA.
O movimento ambiental, particularmente a tendência conservacionista, foi determinante para a construção da vertente agroecológica na agronomia, forçando o aparecimento de uma nova agricultura. O internacionalismo favoreceu sua luta em vários continentes.
A agroecologia, como categoria data da década de 1970, mas sua prática tem a idade da agricultura, surgindo com a rica simbologia e sistemas rituais dos povos antigos, que freqüentemente servia para regular o uso da terra e para codificar os conhecimentos agrários e a pratica da agricultura. Portanto, a agroecologia é, no fundo, até anterior ao ambientalismo. Embora a Agronomia seja certamente, a disciplina mãe da agroecologia, esta foi fortemente influenciada pela emergência do ambientalismo e pela expansão dos estudos ecológicos. O ambientalismo foi necessário para fornecer a estrutura filosófica que suporta os valores da tecnologia alternativa e dos projetos normativos em agroecologia. Os estudos ecológicos foram essenciais para expandir o paradigma através do qual as questões agrícolas puderam se desenvolver, assim como as técnicas para analisá-las.
No final da década de 70 e começo da década de 80 um componente social cada vez maior surgiu na literatura agrícola no mundo todo como resultado dos estudos de desenvolvimento rural e crítica aos modelos da agricultura moderna. Estudo, avaliação do desenvolvimento local sustentável.
Na década de 80 praticamente todos os centros internacionais de pesquisa tinham projetos com enfoque sistêmico e agroecológico, seja por meio de programas de pesquisa ou pela incorporação de pesquisa para produto/disciplina.
Em 1987 com a publicação do relatório NOSSO FUTURO COMUM, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e desenvolvimento, a questão ambiental entra definitivamente na agenda e adquire repercussão internacional.
Em 1992, na Eco 92, os ambientalistas foram derrotados. Os principais documentos em torno dos problemas mais graves como a emissão de gás carbônico na atmosfera, e os relacionados a patentes não foram assinados por importantes nações, particularmente os EUA se opuseram. O que demonstrou os limites e a fraqueza da ONU em conduzir as questões do desenvolvimento sustentável e do meio ambiente e a fragosa derrota dos verdes.
Após estas derrotas nos anos 90, os ecologistas construíram redes mundiais de ONG`s das mais variáveis, desde as locais as internacionais como a WWF, amigos da terra e Greenpeace. Juntos com o movimento ambiental prosperou a agroecologia.
Com a crescente consciência ambiental, e o avanço dos problemas do sistema capitalismo e suas externalidades, a agroecologia e seu enfoque sistêmico ganhou destaque, se firmou como ciência e se constitui na atualidade, como uma das mais promissoras áreas do conhecimento agronômico.
Assim surge a oportunidade histórica para o desenvolvimento de uma ecologia humana que encare a atividade econômica, não da perspectiva dos desejos individuais, mas de interesse que tem pela vida sob todas as suas formas, da quais a humana é apenas um aspecto. E assim proponha saídas radicais.
A agroecologia pode ser entendida e tratada como uma economia ecológica voltada para o agrário. Economia ecológica é mais abrangente que a economia e a ecologia sendo transdisciplinar e interdisciplinar do desenvolvimento rural sustentável.
O sistema capitalista limita o desenvolvimento sustentável a sua tutela e não permite um maior avanço.
Assim poderá a AGROECOLOGIA, enquanto ciência, lida com seu objetivo de estudo aborda questões complexas, inter e multidisciplinar, a partir de uma visão sistêmica e aponta saída a crise agrária e ambiental no quadro do capitalismo agrário-industrial hegemônico?
O limite da AGROECOLOGIA é o próprio sistema capitalista.
Precisamos de revolução realmente verde.
É necessário um programa agroecológico mínimo (transição).

Resumo do Capitulo 3 do Livro: Desenvolvimento sustentável com base no paradigma agroecológico (Dissertação do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos - NAEA, UFPA do ano de 2006) do Eng. Agrº Gilson da Silva Costa (Doutorando do NAEA/UFPA).