quarta-feira, 14 de outubro de 2009

CARTA EM RESPOSTA AO ATAQUE DA REDE GLOBO AO MST NO TELEJORNAL BOM DIA BRASIL, NO DIA 15 DE OUTUBRO DE 2009

É impressionante o incômodo que os assentamentos da reforma agrária provocam aos defensores do agronegócio. Depois da ocupação que o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) fez na fazenda que a CUTRALE grilou em São Paulo – porque era terra pública – e plantou laranja. O que a grande mídia, juntamente com os históricos defensores da agricultura patronal no Congresso, como a Senadora Kátia Abreu e o Deputado Federal Ronaldo Caiado (criador da bancada ruralista), vem declarando contra o MST e a reforma agrária é algo criminoso e precisa ser rebatido. Agora pela manhã estava assistindo o telejornal da rede Globo e fiquei estarrecido com as declarações e acusações que a rede Globo fez ao movimento numa reportagem sobre a reforma agrária.
A reportagem divulgou um resultado de uma pesquisa que a CNA (Confederação Nacional da Agricultura) realizou sobre os assentamentos, onde resumiu a realidade da reforma agrária á realidade de nove assentamentos por eles pesquisados. Os ditos números acusam os assentamentos dos últimos 15 anos de improdutivos e de revendidos. Isso que chama-se de manipulação de dados e merece uma ação na justiça contra a rede Globo. A reportagem se referia à ocupação do MST a fazenda da CUTRALE, onde o movimento derrubou, como forma de protesto e para chamar a atenção da sociedade, dois mil pés de laranjas dos mais de um milhão que a CUTRALE tem plantado na fazenda.
É verdade que a realidade da reforma agrária não está como queríamos, mas isso é apenas reflexo de uma política de sucessivos governos que não deram a devida importância a esse setor. Enquanto a agricultura patronal tem disponível 92 bilhões de reais para a safra 2009/2010, a agricultura familiar recebeu apenas 15 bilhões de reais; enquanto o agronegócio produz para a exportação e fica incomodado por que o dólar está baixo – como tratava a reportagem anterior a do ataque ao MST e a reforma agrária – e assim o brasileiro pode adquirir mais alimento para o consumo; a agricultura familiar produz a maior parte dos alimentos que chegam à mesa do povo brasileiro, produzindo: 87,0% da produção nacional de mandioca, 70,0% da produção de feijão, 46,0% do milho, 38,0% do café, 34,0% do arroz, 58,0% do leite (composta por 58,0% do leite de vaca e 67,0% do leite de cabra), possuem 59,0% do plantel de suínos, 50,0% do plantel de aves, segundo os atuais dados do IBGE – isso sem se falar nas verduras.
A bancada ruralista quer abrir uma CPI contra o MST, acusando-o de captar recursos públicos para financiar suas ações (que é mentira) e esquece que quem financia a agricultura patronal é o dinheiro público, a exemplo do salário recebido pela presidente da CNA, Senadora Kátia Abreu, que era proveniente de recursos destinados à rede SENAR.
Então, é necessário defender o MST para defender a reforma agrária e a agricultura familiar e assim evitar faltar alimento em nosso país, pois as grandes fazendas estão apenas preocupadas em produzir commodities para a exportação.


NÃO À DIFAMAÇÃO DO MST.
EM DEFESA DA AGRICULTURA FAMILIAR.
EM DEFESA DA REFORMA AGRÁRIA.
POR UM BRASIL SEM LATIFÚNDIO.


Maceió, 15 de outubro de 2009.

Cícero Adriano Vieira dos Santos, Agrônomo e defensor da Reforma Agrária.